Um estudo de uma universidade sueca publicado na edição desta semana do periódico acadêmico “British Journal of Medicine” que monitorou dois grupos de adultos e idosos, um com 61,4 mil mulheres e outro com 45,3 mil homens, diz que a ingestão de leite de vaca não preveniu fraturas por fragilidade óssea e, em grandes quantidades entre as pessoas de sexo feminino, chegou perto de dobrar a mortalidade.
A pesquisa, feita com metodologia de coorte (grupos contemporâneos de pessoas) pela Universidade Uppsala, concluiu que a presença de cálcio e de vitamina D, essenciais para o esqueleto, não são capazes de prevalecer sobre a grande quantidade de açúcares prejudiciais no leite e em derivados, e acabam por trazer benefício nulo ou prejuízo a quem os consome.

A lactose e sua derivada galactose são as moléculas de açúcar vilãs da história, segundo o estudo: causam oxidação e inflamação sobre as células em um processo semelhante ao do envelhecimento.
Derivados de leite com baixo teor de lactose (e em especial alimentos subtraídos desse carboidrato), mantida a taxa de cálcio, portanto, podem ajudar a prevenir faturas e osteoporose, diz a pesquisa.
O acompanhamento de cada indivíduo durou 22 anos em média. Ao longo do período, 15,5 mil mulheres e 10,1 mil homens morreram.
O índice de mortalidade de mulheres que ingeriam diariamente três copos de leite (680 ml, ou o equivalente a isso em derivados, ou uma combinação na média da amostra), comparado ao das que consumiam um copo ou menos (com média de 60 ml por dia na amostra) foi 93% superior.
No grupo masculino, também houve mortalidade superior nessa mesma comparação, mas menos pronunciada, a 10%.
Segundo os pesquisadores, liderados por Karl Michaëlsson, professor do departamento de ciências cirúrgicas, o consumo de três copos de leite por dia levou a maior incidência de doenças cardiovasculares em homens e em mulheres, e em maior incidência de câncer em mulheres.
A ocorrência de gorduras saturadas e de colesterol no leite integral e em queijos são agravantes nesse sentido.
Quando do início do estudo, em 1987, as idades dos grupos eram entre 39 e 74 anos para o feminino e entre 45 a 79 anos para o masculino.
“A grande quantidade de lactose e, portanto, de galactose, no leite com a teorética influência em processos como estresse oxidativo e em inflamação tornam uma contradição as recomendações de aumentar o consumo de leite para prevenção de fraturas”, escrevem os estudiosos.

VEGANOS
O estudo corrobora, assim, os benefícios de uma dieta livre de ingredientes de origem animal, por meio da qual pode-se obter cálcio no gergelim, na soja (e no tofu), em castanhas, na couve e no espinafre, sem mencionar os leites vegetais e os cereais fortificados.
A escola de saúde pública da Universidade Harvard recomenda que, em vez de leite, folhas escuras e legumes sejam ingeridos para se conseguir cálcio.
Apesar disso, um especialista consultado pelo jornal “Telegraph”, do Reino Unido (um país cuja autoridade sanitária aconselha o consumo de 550 ml de leite por dia para prevenção de osteoporose), afirmou que o estudo sozinho não deve ser tomado como base para mudar uma política nacional, ao menos por enquanto.
A fragilidade óssea é um processo gradual que começa por volta dos 30 anos. Adultos que não consomem quantidades suficientes de cálcio e de vitamina D podem sofrer com osteoporose, uma descalcificação esquelética que os torna propensos a fraturas graves, como a de quadril.
atualização: Alguns leitores reclamaram sobre a interpretação do estudo pelo texto. Concordo com a afirmação de não ter sido claro quanto à conclusão ser causal, fator mencionado na conclusão do estudo. Mudei o anterior título de Leite não previne fraturas e aumenta risco de morte em adultos, diz estudo para o atual.
atualização 2: Fabio Chaves, do Vista-se, bem observou que o Ministério da Saúde brasileiro também recomenda o consumo diário de “três porções de leite e derivados”, já que seriam “a principal fonte de cálcio na alimentação” (na alimentação do autor da cartilha, esqueceram-se de mencionar…).
(Originalmente publicado enquanto o blog estava no domínio da Folha, em 30/10/2014)